O Senhor Rato da Cidade foi um dia visitar o seu amigo Rato do Campo,
que o tinha convidado a passar uma tarde com ele. Habituado ao conforto da casa
da cidade em que vivia, o Senhor Rato da Cidade não gostou do buraco pobre, sem
tapetes nem asseio, em que morava o seu amigo Rato do Campo. Este, coitado, bem
fez tudo para lhe agradar, mas o Rato da Cidade mostrava-se cada vez mais
enjoado com o que via.
Ao jantar, o Rato do Campo trouxe-lhe o que tinha de melhor: uns
pedacinhos de queijo velho, uns bocados de pão, uma batata, raízes e alguma
fruta. Ofereceu tudo ao amigo e ele pôs-se a roer uma palha dura e a aproveitar
as migalhas que caíam.
Depois de comer, o Rato da Cidade disse ao amigo, com ar importante:
- Sabes que mais? Não sei como podes viver assim. Aqui não há comer, nem
há nada. Eu, no teu lugar, dizia adeus a esta miséria e ia para a cidade. Lá é
que é viver! Com boa comida e boa toca: é uma vida regalada!
O pobre Rato do Campo, envergonhado com a sua pobreza e seduzido com as
belezas do que o amigo lhe falava, resolveu ir com ele para a cidade.
Quando lá chegou e entrou na casa onde o Rato da Cidade tinha a sua
toca, ficou admirado com a riqueza que via e com os tapetes em que se afundava
ao passar. Por toda a parte havia boas comidas e com fartura.
Contentíssimo, o Rato do Campo regalou-se a comer do melhor que
encontrava, e o outro ria-se de o ver tão palerma no meio daquilo tudo.
Estavam os dois no melhor da festa, a comer e rir, quando aparece um
grande gato, que se atira a eles de um pulo. O da casa depressa enfiou para o
seu buraco e fugiu ao gato. Mas o do campo, coitadinho! Aos saltos e às
corridas, sem conhecer a casa, lá se escondeu do gato conforme pôde.
Quando
o gato desistiu de apanhá-los e o susto passou, o pobre ratinho saiu do seu
esconderijo e foi falar com o outro à porta da casa dele.
- Vou-me embora, amigo. Isto pode ser muito bom e muito bonito, melhor
do que a minha casa pobrezinha, mas é perigoso. Lá na minha casa como do que
posso e quando há, mas estou descansado. Passa muito bem, que eu contento-me
com o que tenho. Antes magro no mato do que gordo na boca do gato.
E voltou a correr para sua casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário